Pelas ruas repetidas
Pelos labirintos
Pelos bares
Estou feliz?
Estou triste ?
Nomes de pessoas mortas acima sobre lápides azuis
Uma outra versão de mim escorregando pelos mesmos caminhos de sempre
As roupas com manchas de vinho
O perfume que disfarça o cheiro do cigarro
As latas de lixos
Os garis
Mendigos em seus casulos debaixo das marquises prontos para renascer em sonhos distantes
A mesma melancolia
A mesma sensação
O mesmo brilho tímido no asfalto
Um sorriso que reluta sobre o dia
Um sorriso que se esvaira sobre a noite
A mesma sexta-feira da semana passada
A mesma-sexta feira do mês passado
A mesma-sexta feira do ano passado
Tudo
Outra vez
Se repetindo em outras versões de mim
Mica
Imagem: www.stocksy.com
Desperto,
Porém, limitado ao profano noturno,
Com uma breve lembrança,
Talvez, de uma nostalgia borrada de tons escuros aos olhos.
O gosto do enjoou está em tudo,
Os lábios roxos de vinho santificado pela depressão e fluoxetina anestesiam a paz búdica.
Tentei levantar,
O corpo pesava o peso de uma folha caindo em Mabon,
O tempo passou…
Acendi um cigarro,
Desejei morrer mais do que necessitava,
A fumaça era incenso,
E a solidão um quase delírio estoico de uma serenidade light.
Havia uma multidão em mim,
Havia uma multidão em minhas lembranças.
Desejei gritar como Walt Whitman,
Desejei renascer,
Outra vez renascer
Como Walt Whitman…
O cigarro está em seu fim,
A brisa fria de outono parecia dizer querer alguma coisa,
Como sempre fiz questão de ignorar.
Está na hora de um último trago,
As folhas logo cairão por todo o quintal…
-MICA
Já bebi e fingi muito pelas ruas de Curitiba,
Minha vida se parece com o terminal onde pego o ônibus de volta para casa.
Estou sobre o domínio de uma fuga inconstante,
E assim como os atrasos nos horários do itinerário,
Fico a esperar e esperar.
O bom filho a sua casa retorna?
Nenhuma memória me pertence,
Sinto um leve vazio quando alguém desce em seu ponto,
Então insisto sempre na insistência diária em dizer um breve adeus a todos.
A vida é um vai e vem de rotinas e olhares herméticos cujo qual minha solidão insiste em entender
La se vai aquele que poderia ser meu melhor amigo,
La se vai aquela que poderia ser o amor da minha vida,
La se vai aquele que poderia ter segurado a minha mão…
Adeus a todos que não conheço verdadeiramente.
Pobre do motorista,
Mal sabe ele que não esta me levando para lugar algum.
Em certos dias sinto estar no ônibus errado,
E mesmo não
estando s
into um tímido
desejo em perguntar para onde estamos todos indo.
E a vida é isso e aquilo,
Correr para pegar o ônibus e não chegar atrasado seja onde for.
Mas e sobre a minha vida cobrador,
Essa já não vale nem sequer o preço de uma passagem,
Pode parar,
Que eu preciso descer…
-Mica
fonte imagem: https://pt.foursquare.com/v/terminal-port%C3%A3o/4c1660cb7f7f2d7febe1e368/photos
Estou a caminhar com Blake entre o céu e o inferno
Faço parte de duas forças opostas que oprimem a carne
Nosso vazio comporta o mundo
E o nosso mundo comporta todo o amor
Então aqui estou a escrever
Mesmo sabendo que a poesia não irá me salvar
Essa noite foi difícil, desbravei a cidade tentando fugir, mas tudo que encontrei foi um vácuo absoluto em torno de nossas auras sombrias onde a solidão flutuava solta no ar. Por um instante me perdi por entre a neblina noturna dos cigarros que cobriam as ruas em tom quase fúnebre pós-apocalíptico de uma noite estranha. Em meu estado de êxtase senti o espírito ser entorpecido pelo vinho e liberto pela imagem de Gandhi estampada na camiseta de uma hipster perdida em seu nirvana discreto embalado por moonlight drive de nosso amado e quase santo Jim Morrison.
Mica, 30. Artes visuais, poemas, subcultura gótica e melancolias afins. Prazer.
